À medida que cresce o volúme de produção de açúcar no projecto agro-industrial Biocom, em Cacuso, província de Malanje, diminiu a necessidade de importação desse produto.
Com o aumento dos níveis de produção no projecto agro-industrial Biocom em Malanje a necessidade de importação de açúcar vai sofrer em breve forte redução Fotografia: José Soares
As projecções apontam a necessidade de importação de açúcar em Angola atinja os cerca de15 por cento em 2020, com a Biocom nesta altura a atingir as 256 mil toneladas por ano e a cobrir pouco mais de 85 por cento do abastecimento ao mercado interno. Um dos principais focos do Projecto Biocom para a primeira fase é cobrir a procura no mercado interno. Actualmente o mercado consome cerca de 300 mil toneladas por ano. A Biocom, que é o único produtor no país, prevê atingir este ano as 47 mil toneladas e aumentar progressivamente a oferta até às 256 mil toneladas anuais em 2020. Os dados correspondem a projecções para a primeira fase do projecto que se propõe reduzir para apenas 15 por cento a necessidade de importação desse produto. Para a segunda fase, já com mecado interno consolidado em termos de cobertura, está reservada para a exportação do açúcar “Kapanda”. Por essa altura a produção anual da Biocom andará a volta das 500 mil toneladas. Depois da Independência Nacional é a primeira vez que o país produz açúcar cristal branco, etanol e energia através do bagaço da cana-de-açúcar. O Projecto Biocom tem-se destacado como um dos “grandes exemplos da viabilidade do processo de diversificação da economia angolana". Desde que começou a fase de produção, a Biocom tem somado resultados positivos. Na colheita de 2015-2016 produziu 24.770 toneladas de açúcar, 10.243 metros cúbicos de etanol e gerou 42 megawatts de energia eléctrica. Na campanha de 2016-2017, que começou em Junho deste ano, foi definida a meta de 47 mil toneladas de açúcar, tendo sido superada para 51.514 toneladas, a produção do etanol chegou a 16 mil metros cúbicos para garantir a co-geração de 155 mil megawatts de energia. Em 2020-2021, altura em que se prevê atingir a capacidade máxima de produção da primeira fase, vão ser produzidas 256 mil toneladas de açúcar, 235 mil megawatts de energia eléctrica e 33 mil de metros cúbicos de etanol. A produção do açúcar da Biocom nesta primeira fase é destina ao mercado nacional, já a energia eléctrica é comercializada pela Empresa Nacional de Energia de Angola (RNT). O etanol hidratado vai atender a indústria nacional de produtos de limpeza e de bebidas alcoólicas espirituosas. A Biocom representa o maior investimento privado de Angola fora do sector petrolífero, para o início da produção foram investidos 750 milhões de dólares. Ao longo da implementação do projecto foram alocados outros recursos dada a dinâmica da produção, com aquisição de mais meios técnicos e outros recursos, já foram investidos cerca de mil milhões de dólares. A Biocom é uma empresa privada que tem como sócios a Cochan, com 40 por cento do capital, a Odebrecht detém também a mesma percentagem, e a Sonangol Holdings tem 20 por cento. O projecto emprega 2.047 trabalhadores nacionais, em cada emprego directo são criados dez indirectos, a mão-de-obra é 91 por cento nacional. No processo agrícola e industrial a empresa utiliza tecnologia moderna e de ponta, que permite produzir açúcar, etanol e energia tendo como matéria-prima a cana-de-açúcar.
Melhor tecnologia
A Biocom conta com o mais moderno laboratório agrícola do país, que faz 320 análises por dia. Com capacidade para analisar o solo, folhas, correctivos e adubos, que fornece informações necessárias para tomada de decisões técnicas que resultam numa melhor produtividade da cultura de cana. É através da análise do solo que se avalia a sua fertilidade química. Com os resultados obtidos é possível determinar as quantidades adequadas de calcário e adubo necessários para melhorar a produtividade de forma tecnicamente correcta e economicamente adequada, para evitar gastos desnecessários. Pereira Panzo, natural de Luanda, técnico de laboratório há sete meses na Biocom, explicou que para a realização de qualquer análise é necessária uma amostra de 300 gramas de solo. Para a colecta ideal é necessário seguir algumas orientações, como a escolha dos talhões homogéneos, que identificam a proporção de argila, areia, pedras, declividade, a cor e a profundidade do solo, posição no relevo, características de vegetação e o histórico de uso e adubação. A colecta deve ser realizada após o término da colheita ou em áreas que serão plantadas pela primeira vez. O resultado da análise e a recomendação da adubação e calagem devem estar em mãos antes da primeira etapa de preparo do solo. Para plantios convencionais que possam requerer calagem, recomenda-se colectar 120 dias antes do plantio. Os pontos onde não podem ser realizadas colectas são aqueles que existem a presença de salalé, formigas ou que tenham sinais claros de actividade animal, áreas de depósito de adubos e calcário, próximo de instalações, estradas e trilhas. A empresa mantém o seu próprio viveiro, onde são avaliadas as espécies de cana-de-açúcar mais adequadas às condições climáticas e de solo da região. O viveiro de mudas pré-brotadas da Biocom tem por objectivo acelerar, através de multiplicação rápida, as variedades com alto potencial de produtividade agrícola e alta qualidade da matéria-prima. Pioneira no uso de técnicas avançadas de manejo, a empresa começou este ano a pulverização agrícola, para controlo de praga e adubação, com o uso de aeronave. Tércia Bento, 37 anos, trabalha há oito anos na Biocom na área do laboratório de produção industrial. Natural de Malanje, disse que está satisfeita com o trabalho que faz. A técnica vive com um filho de dois anos, contou que o seu sonho sempre foi trabalhar em laboratórios. “Fiz um curso no Brasil de seis meses, onde aprendi quase tudo que sei hoje. Sinto-me satisfeita pelo que ganho aqui, dá para sustentar a mim e o meu filho”.
Programa de produtividade
A Biocom está empenhada na aplicação de um programa de produtividade que tem como meta conquistar a eficiência a partir da consciencialização dos seus quadros, gestos simples como a manutenção da limpeza e organização no local de trabalho, são exemplos de atitudes que contribuem para gerar a eficiência, que é sinonimo de produtividade. Na área agrícola, quando um integrante se mantém atento às ocorrências que geram perdas e comunica esse facto ao seu líder, ele está a ser produtivo. Na indústria é fundamental observar o funcionamento das máquinas. Os integrantes da área administrativa devem primar pela pontualidade, assiduidade e agilidade. A empresa cumpre todos requisitos impostos pela Lei Geral do Trabalho, nomeadamente o abono de família. Recebem horas extraordinárias todos aqueles que não estão no turno rotativo e trabalham entre as 20h00 e as 6h00, o valor adicional é de 20 por cento por cada hora de trabalho. Para garantir os direitos sociais e a Segurança Social de cada trabalhador,
a Biocom paga uma taxa de 11 por cento ao INSS e é descontado ao integrante três por cento todos os meses. O imposto Sobre o Rendimento de Trabalho é descontado numa percentagem que varia de acordo com o salário. É também pago o subsídio de aleitamento para os filhos entre os zero e os três anos.
Processo de transformação
A colheita da cana é 100 por cento mecanizada. Depois de colhida na lavoura, ela passa por várias etapas, até ser transformada em açúcar e etanol, que da queima do bagaço ainda é gerada a energia eléctrica. Bartolomeu Zumba, líder de produção do açúcar, explicou à reportagem do Jornal de Angola que o transporte até à indústria é feito por 20 camiões, depois a cana é picada e desfibrada até chegar à moagem. A cana passa pelo difusor onde é extraído o caldo para a fabricação de açúcar e etanol e nesta etapa o bagaço é separado. Natural do Cuanza Norte, Bartolomeu Zumba disse que na fase seguinte o bagaço é processado nas caldeiras para gerar vapor, enviado para as turbinas de geradores de electricidade. Depois do caldo ser clarificado passa por evaporadores que removem grande parte da água e o transformam em um “xarope”. Esse líquido é bombeado para os tachos de cozimento para a cristalização do açúcar (sacarose). As centrifugadoras separam os cristais de açúcar do líquido açucarado, denominado melado, contou. Em seguida, o açúcar passa no secador para retirar a humidade contida nos cristais. Na saída do secador o produto é enviado até ao silo ou armazém de onde é feito o ensacamento ou expedição a granel. “Diariamente produzimos entre oito a dez mil sacos de 50 quilos”, disse. Após a fermentação a levedura é separada do vinho e recuperada por meio da centrifugação, depois segue para o aparelho de destilação onde o álcool é separado, concentrado e purificado até 99,6 por cento para a produção do etanol anidro (isento de água), por último o biocombustível é armazenado em grandes tanques ou reservatórios, onde diariamente podem produzir até 20 mil litros. A área de produção conta com 25 máquinas colhedoras, dez plantadoras, com quatro distribuidora de cana. Só no mês de Outubro, no sector produtivo foram consumidos um milhão e 400 litros de combustível, com uma média diária de 46 mil litros. Samba Domingos, operadora de máquina colhedora, recorda como foi difícil e ao mesmo tempo enriquecedor o início da sua carreira no campo, principalmente pelo facto de ser mulher. Vive em Malanje e para chegar a horas ao trabalho tem de acordar às 5h00, e larga às 15h20. “Sinto orgulho por fazer parte deste projecto, antes sofria discriminação, os colegas desincentivavam a dizer que este não era trabalho para mim, mas esta contrariedade deu-me mais força para aprender e superar as expectativas e hoje faço o trabalho normalmente sem sobressaltos”, revelou.
Maior investimento
A Biocom representa actualmente o maior investimento privado em Angola, fora do sector petrolífero, e é um importante activo de desenvolvimento nacional. Localizada no Pólo Agro-Industrial de Kapanda, ocupa uma área total de 81.201 hectares, dos quais 70.106 são cultiváveis e 11.095 reservados à preservação da fauna e flora local. As actividades da empresa englobam duas áreas de produção agrícola e industrial. Os trabalhos na área agrícola funcionam durante todo o ano e incluem a preparação do solo, plantio e replantio e colheita da cana-de-açúcar, que este ano teve início em Junho e terminou em Outubro. O terreno utilizado para o plantio e replantio precisa de correcções e nutrientes que permitem maior produtividade agrícola. Nesta primeira fase, a plantação de cana-de-açúcar está a ser feita numa área de 42.500 hectares, dos quais 15 mil já plantados. A actividade industrial funciona em tempo integral durante todo o período de colheita, produzindo açúcar, etanol e energia. Nos demais meses do ano, a indústria opera com a produção de energia através da queima de cavaco de madeira oriunda do processo de supressão vegetal das áreas da fazenda. Este período também é aproveitado para proceder à manutenção de todos os equipamentos da indústria. Este regime de operação é típico da indústria de álcool proveniente da cana-de-açúcar em qualquer parte do Mundo e decorre da impossibilidade de colheita no período de chuva.
Consumo de açúcar
O açúcar produzido pela Biocom é destinado ao mercado interno. Já o etanol hidratado tem servido a indústria nacional de produtos de limpeza e de bebidas espirituosas, tendo reduzido em mais de 60 por cento as importações. A energia eléctrica é negociada com a Empresa Nacional de Energia de Angola (RNT), estando actualmente a fornecer ao município de Cacuso e parte de Luanda. A aposta forte em recursos humanos e estruturas físicas tem contribuído significativamente para a continuação da produção agrícola, estudos, pesquisas de laboratório, equipamentos de ponta e mão-de-obra qualificada. A empresa mantém o seu próprio viveiro, onde são avaliadas as espécies de cana-de-açúcar mais adequadas às condições climáticas e de solo da região. O viveiro de mudas pré-brotadas da Biocom tem por objectivo acelerar, através da multiplicação rápida, as variedades com alto potencial de produtividade agrícola e alta qualidade da matéria-prima. São 36 as variedades de cana-de-açúcar importadas da África do Sul, Brasil e Índia, das quais dez já se encontram plantadas. A produção em Malanje é multifacetada. Homens e máquinas tiram partido do potencial de desenvolvimento. No total, 2.047 trabalhadores dão suporte ao projecto. O espaço onde exercem a actividade corrente correspondente a 50 campos de futebol. Toda a produção agrícola tem como objectivo alimentar a indústria instalada numa área de 17 mil hectares para a produção de açúcar, etanol e energia eléctrica.
Projecto social
O incentivo ao desenvolvimento económico e sustentável para a promoção de renda faz parte da política social da empresa. Mais de 300 famílias beneficiam de um programa de agricultura familiar, onde todos os produtos são vendidos directamente à Biocom. Existe também a fabricação de sabão neutro a partir do óleo de cozinha usado. Mais de 20 mulheres da comunidade de Cacuso beneficiam do programa e têm a oportunidade de se desenvolverem profissionalmente e contribuir para o sustento das suas famílias. Existe também um programa de desporto, educação, cultura e lazer que beneficia centenas de pessoas. A escola Palancas Negras, agregada ao projecto, oferece aulas de judo, jiu-jitsu e actividades culturais para dezenas de crianças e jovens da região de Cacuso.
Com o aumento dos níveis de produção no projecto agro-industrial Biocom em Malanje a necessidade de importação de açúcar vai sofrer em breve forte redução 1/5
Necessidade de importação de açúcar atinge valores quase residuais em 2020 2/5
Através do bagaço da cana é produzido o açúcar cristal branco 3/5
Tércia Bento trabalha no laboratório de produção industrial e está satisfeita com o projecto 4/5
A produção do açúcar da Biocom nesta primeira fase é destinada ao mercado nacional e o etanol hidratado vai atender a indústria de bebidas 5/5